segunda-feira, 31 de março de 2008

EFEITO DOMINÓ EM TABULEIRO DE XADREZ


Escla, Re, Cido e Vital mudaram-se para minha rua numa daquelas tardes em que o sol lambe a linha do horizonte. Dia lindo para o que denominei “tabuleiro humano”.
Cido era o marido da rainha Escla, Re, a irmã e Vital, o cachorro de todos. Cido rei era um devasso dissimulado, amava uma irmã por vez, além, é claro, do pião Valdez, que morava ao lado e era cortês.
Não respeitaram a regra do jogo e não usaram o preservativo da sensatez. Re se deleitava de prazer, enquanto Valdez ostentava a condição de co-concubina com altivez. Escla desconfiava entre o sim e o talvez – afinal o amor é cego tanto quanto a estupidez.
Cido e Escla poderiam ter tido belos filhos, Maria, João e Inês; com Re teria sido felicidade a seis, mas Cido traiu a todas e a AIDS matou os três para depois sucumbir Valdez.
Agora Vital é mau agouro, ninguém o quer, a não ser Montenegro, ex-namorado de Valdez.
Relembrando essa história, percebo que toda segurança está comprometida comigo embaixo do chuveiro, escorrendo lenta, frágil e vermelha pelo ralo do banheiro.
Surge então a inevitável pergunta: serei eu a peça da vez? Eu que amei Montenegro por apenas um mês? Enquanto a reposta não vem, a vida continua com seu macabro jogo de xadrez.


Nercy Luiza Barbosa

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