sexta-feira, 9 de novembro de 2007

sonhos de Deus

sonhos de Deus não são meus

e de tão pequena desapareço

de tão intensa entorpeço

enquanto o dia me desce pela garganta

em recomeço

tento salvar meus sonhos

nos sonhos de Deus



Nercy Luiza Barbosa

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Designação



escolho entre nomes
um que não seja comum
porque há dentro do que sou
um oceano incomum de dois nomes

por certo meus pais acharam que eu seria um ser duplo
se enganaram
sou tantas e nenhuma

sou Nercy
assim
escrito em vermelho
a que sangra em vértice rodopiante
e sou Luiza
a de Jobim
a de ninguém
a de nenhum sentido exato
o exato não me veste bem
me cai tão desconfortavelmente
quanto o Tacacá do Acre


Nercy Luiza Barbosa

domingo, 5 de agosto de 2007


A Cor do Instante


Agora
no instante que devora
o próprio instante
sinto minha cabeça doer
se eu não tivesse cabeça eu doeria?
ela doeria?
esse sentir
deve ser coisa de viver
só vivo é quem sente...
alívio
no instante
indolor
e
indolor
não é
incolor
é
instante
é
cor


Nercy Luiza Barbosa







Bicho Meu



O que me habita o corpo-casa
é bicho mutante

Ele me surpreende diferente
a cada segundo

Há dias que meu bicho vem feminino e vaidoso
outros, menino errante

Às vezes me escondo em seu corpo
só pra que ele não se sinta
tão meu dono-operante

Somos dois bichos
num mesmo círculo-dança


Nercy Luiza Barbosa

Sorriso-sepulcro


Continuo de boca e nariz bem abertos
como no dia em que nasci
e o oxigênio me feriu os pulmões pela primeira vez

Hoje faço exercício físico para aumentar o fôlego
.
.
.

nem tão danificado assim pela fumaça do Free One
e dos escapamentos dos motores automotivos

Motivo dos automotivos?
andar menos
ganhar tempo
depois perdê-lo numa ociosidade improdutiva

Então, ando mais
dou fôlego aos músculos que me mantém de pé
porque sei
um dia desses o fôlego acaba
o tempo o rouba de mim
com seu sorriso-sepulcro



Nercy Luiza Barbosa









sábado, 4 de agosto de 2007

O Beijo das Palavras


No implícito das palavras descubro o indizível
Gosto de tal invenção e dos vocábulos que não sei

Sei que te quero como me veio... Presente-distante
Tenho consciência do quão perto e dentro está
O eu coerente te querendo no ato do fato
Ato de um toque que toque no ato
Este outro ato que é todo coisa-fato

Quando meu beijo tocar a boca da palavra
Será beijo único aos milhares
O mesmo beijo continuará a beijar tua boca
Que beija a boca que te beija
Que nada mais quer do que beijar esse beijo
Distante e perto de beijar

Se nossos vocábulos se tocarem
O encanto destruirá?




Nercy Luiza Barbosa

Incisión
Tu ya me conoces
Sabes el nombre del amor
que en mí habita

Me lesiona
Pero no cura la herida
Mientras esta cicatriza

Da me tu boca
Donde otra lámina abriga
Abre nuevo y profundo dolor
Antes que el antiguo sea ungido

Besame el hombro
Y si va en una sonrisa
Desea mi amor
Aunque que sin prévio aviso

Y yo lo quiero
En el sentido bíblico
En un tiempo previsto
Sin este gusto de vidrio

Que tu quiebras
Sobre un concepto ilícito
Y no completa el rito


Nercy Luiza barbosa

domingo, 10 de junho de 2007

Espaço-lugar



Espaço-lugar


Tu sempre me salvas do abismo-eu − abismo mundo
Hoje, sem querer, desenhei o cheiro do oceano extenso
Por querer beijei o aroma do mar
Pela primeira vez ele estava doce
Tanto quanto meu momento o trouxe
Foi quando beijei também o ventre do contra-senso

Tu tão poema... eu um tanto prosa
Quero escrever, dizer, contar...
Infinitas redundâncias de quem quer se calar
Desejo quase que me esconder no tudo eu de nada sou
Marcar de me encontrar lá fora é fatal
É continuamente perda de tempo
Perco a hora!Transito novo espaço-lugar: Loba sem mar
Não tenho oceano, não sei para a lua uivar
Mas, teimosa, continuo a sonhar
As coisas todas, quase o tempo todo dão erradas.
Assustada – não consigo chorar

Penso que as estrelas não estão no céu e sim no olhar
Nem tão sério, nem tão vulgar
Penso nos gritos presos nos eus de nós
Prisioneiros de um tu-eu bem no eixo do nó. Temos eixo?
Talvez o tenhamos ao avesso
Periférico, observa-dor
e
mar
Nercy luiza Barbosa