domingo, 23 de maio de 2010



Mineral



Minha cidade imaginária não tem chão, ou melhor... Tem sim! Só que é transparente. Quando se anda pelas ruas, pisa-se sobre uma outra cidade. Ou será outro mundo? Não sei! Há dias que o humor está ácido. O dia está nublado e tudo parece um tédio, piso mais forte nesse chão. Então, ele se rompe... e lá vou eu, deslizando para meu mundo perfeito. Todo o lugar existe sobre as águas, e eu ando por entre árvores de folhas líquidas, verdes e ondulantes. Os pássaros mudam de forma como ondas do mar sob o vento. As pessoas escorrem pelo chão d’água, feito água mesmo, tudo é água. Ao pisar sobre elas (sem querer), elas me sorriem um riso molhado e fértil. Fértil porque desse sorriso brota outros.À margem desse chão corre uma biblioteca-rio continuamente, nela se pode ler todos os livros do mundo, e todos no idioma eu falo. Há também meu cachorro que morreu, ao me ver ele dança de alegria e eu de louca mesmo, mas uma loucura feliz. O lugar todo é magia molhada. É quando me dou conta que preciso voltar para minha realidade ilhada. E todas as vezes que tudo fica árido, é nesse outro mundo molhado que entro. É dele que volto... inteira mineral.



Nercy Luiza Barbosa